Escrito por
Prof. Dr. Daniel Mello
22/8/2021

Olimpíadas, Psicologia e Tecnologia

Olimpíadas

 A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos foi um espetáculo à parte e simultaneamente discreto, demonstrando respeito e solidariedade aos que perderam entes queridos na pandemia, momento difícil e ao mesmo tempo de um novo sentido à vida, como propõe a psicoterapia para enlutados.

 Nas Olimpíadas os sonhos se renovam e vão muito além das medalhas. Um evento dessa magnitude, reúne os melhores do mundo, em diferentes modalidades e conecta quase todas as nações. Cada atleta busca dentro de si um lugar na história, mudança de vida para sua família e até para o seu país, o que aumenta a pressão em cima desses jovens. 

 Psicologia

A exposição das fragilidades dos atletas nessa competição, foi fundamental para as pessoas identificarem e respeitarem seus próprios limites, e entenderem que a mente também tem suas vulnerabilidades. Expor a luta interior desses atletas, acima de tudo humaniza, e requer coragem, uma vez que já pisam na arena dos campeões.

 

A Psicologia do Esporte lida com esses fatores psíquicos que interferem nas ações do exercício físico. Corpo e mente se movimentam juntos e Tokyo 2020 evidenciou isso:

1. Simone Biles:

4 vezes ouro nas Olimpíadas do Rio em 2016. A ginasta mais vitoriosa na história dos EUA, se retirou da competição para se concentrar em sua saúde mental. Saiba mais.

2. Naomi Osaka:

Outra atleta de alta performance (a que acendeu a pira olímpica), maior esportista do Japão e atual Nº 2 do mundo, foi eliminada pela tenista tcheca, 42ª no ranking mundial. Saiba mais

Capa da revista TIME na edição de Julho de 2021, com a manchete “IT’S O.K. TO NOT BE O.K.”, Naomi emite um alerta por mais empatia e respeito à privacidade e saúde mental dos atletas, trazendo um olhar mais amplo e humano sobre eles. Conheça mais sobre Naomi na série documental “Naomi Osaka: Estrela do Tênis”, lançada em 2021. 

3. Rayssa Leal:

No contraponto desse ambiente hostil, temos uma skatista de 13 anos, atleta mais jovem da história do Brasil, prata nessas Olimpíadas, a nossa Fadinha: "É só fazer o que ama e se divertir".

Rayssa e outras meninas da sua modalidade, deixaram sua marca da leveza e solidariedade, comemorando as manobras com suas concorrentes, sem aquela pressão tóxica. Saiba mais.

Rayssa teve mais duas forças favoráveis: a companhia materna, cuidado específico considerando a idade, e a torcida dos atletas na arquibancada, boa parte brasileiros.

"Preciso me concentrar no meu bem-estar, há vida além da ginástica. Infelizmente aconteceu nesse palco. Esses Jogos Olímpicos têm sido muito estressantes... Uma longa semana, um longo ciclo olímpico e um longo ano”. Simone Biles

Os jogos sem torcida, impactam no senso de pertencimento e no estímulo ao esportista. 

Torna-se fundamental o papel dos treinadores no engajamento dos atletas para o resultado e conexão com seus desafios. Não menos relevante: no acolhimento e atenção aos sinais.

O esporte olímpico é fantástico em proporcionar exemplos inspiradores e de superação.

Que continue sendo capaz de produzir mais exemplos de humanidade e que tenhamos a capacidade de manter essa chama acesa, em busca de despertar o melhor de nós.

Tecnologia

É com esse espírito que passamos à você Psicóloga(o), a tocha olímpica da inovação e para fechar esta matéria com medalha de ouro que nós da FuturosX, decidimos fazer uma entrevista com o nosso Prof. Dr. Daniel Mello, olha só:

1. Daniel, como atletas podem ser treinados com o uso das tecnologias?

R: Atletas se beneficiam demais de treinamento mental com recursos tecnológicos. O biofeedback como ferramenta de monitoramento, reconhecimento e otimização da ansiedade, estresse, raiva e atenção e a realidade virtual para treinamentos das funções cognitivas ligadas à modalidade esportiva do atleta, além da dessensibilização, redução da ansiedade dele, simulando o ambiente de competição com e sem torcida.

2. Quais os tratamentos que a Realidade Virtual pode abranger, além do esporte?

R: Há softwares, ambientes e pesquisas para auxiliar em protocolos de tratamento de diversos transtornos de ansiedade, estresse, compulsões, transtornos alimentares, estresse pós-traumático, reabilitação cognitiva, fobias, entre outros.

3. Quais tecnologias você aplica hoje no seu atendimento?

R: Hoje trabalho com realidade virtual para o treinamento cognitivo, dessensibilização de fobias, relaxamento e mindfulness; biofeedback e neurofeedback para, principalmente, complementar protocolos de transtorno de ansiedade, humor e TDAH; além de aplicativos e recursos de monitoramento de pensamentos, emoções, etc.

4. Como o psicólogo pode iniciar o processo com o uso dessas tecnologias?

R: O psicólogo deve buscar conhecimento sobre os recursos. É importante compreender a finalidade, e como os protocolos propõe a utilização das tecnologias. Esse conhecimento ainda não está amplamente divulgado no Brasil, mas pode ser encontrado tanto em cursos de biofeedback quanto em cursos de realidade virtual na Psicologia.

5. Como você vê a Psicologia do Futuro na sua área de atuação?

R: Acredito que a Psicologia se tornará mais integrada com a tecnologia, de uma forma seamless, sem bordas ou barreiras, em um encontro natural. Hoje não é estranho um paciente achar o psicólogo no Google ou Instagram, mandar uma mensagem no WhatsApp para realizar uma sessão por Skype. No futuro os psicólogos estarão mais a par das tecnologias disponíveis e as utilizarão como parte natural dos protocolos de atendimentos, seja um biofeedback, BCI, inteligência artificial e realidade mista.

Prof. Dr. Daniel Mello
Psicólogo Clínico e Esportivo, Pesquisador do Laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP, Professor no CETCC - Psicologia Cognitivo-Comportamental e Diretor de Tecnologia na Associação Paulista de Psicologia do Esporte e Exercício Físico.
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